Morte Lenta
O "socilogicamente correcto". Ou o "familiarmente correcto". Essa fasquia, essa barreira, esse objectivo. A necessidade de corresponder ao que os outros esperam de nós. Ao que esperamos de nós mesmos. Porque a dificuldade está aí: na frágil fronteira entre os nossos desejos e as aspirações daqueles a quem amamos, de cujo afecto dependemos e que não queremos desiludir.
Naquela altura de afirmar as nossas inseguranças a que chamam adolescência, tentamos desenvolver algo de nosso, só nosso. Mas a verdade é que, assim que abraçamos a liberdade total que a idade adulta traz, assim que vislumbramos um raio de liberdade, logo a angústia se impõe. Afinal o que queremos? A resposta é simples. Ser feliz. Mas nesta simplicidade aparente escondem-se as dúvidas e os temores. O choque. Entre o ideal e o real.
Estes são os dias em que aquilo que idealizámos deve ser posto em prática. Sabemos isso. Apenas já não temos a certeza do ideal. Ou melhor. Este encontra-se esbatido pela rotina que se impôs e que apaga aquilo que sonhámos com os gestos vazios do dia-a-dia. Não temos tempo (sempre o tempo) para descobrir quem somos ou o que queremos.
Mas sabemos dizer que não estamos bem. Conseguimos identificar essa angústia de quem não está satisfeito e reúne forças para mudar. E esse é o primeiro passo. Por isso acredito que há esperança para nós. O fato que vestimos hoje, que faz de nós personagens cinzentos no breve filme da nossa vida, não dura para sempre.
Deixo-te com as palavras de quem sabe mais do que nós, aqui. Porque Neruda tem sempre a melhor das respostas...
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