domingo, fevereiro 27, 2005

Por falar em roupa...

Por causa do fim do teu post lembrei-me de uma espécie de poema que escrevi há tempos... Para te animares e para veres como a natureza feminina é simples...

Hoje à noite põe-se o sol
Para acontecimento tão electrizante
Há que estar fascinante

E o que é que eu vou vestir?

É uma pergunta que me persegue
Para trás e para diante
E se pareço um elefante

E o que é que eu vou vestir?

Sofro pelo caminho
Perco-me pelas ruas
Imagino as velhas nuas

E o que é que eu vou vestir?

Continuo pela cidade
Vejo os pobres no autocarro
O puto rico que fuma um charro

E o que é que eu vou vestir?

Desço o jardim dos maricas
Encontro tias na avenida
Sem saber da minha vida

E o que é que eu vou vestir?

Marginais embelezam prédios
Gastos e podres, a cair
Onde velhos e gatos vão dormir

E o que é que eu vou vestir?

Uma linda mulher passa por mim
De saia curta, perfume quente
Vai trabalhar, no Intendente

E o que é que eu vou vestir?

Um engravatado de gel no cabelo
Olha para as meninas que passam
Adivinhando formas que as fardas disfarçam

E o que é que eu vou vestir?

Uma peixeira que ri baixinho
D'uma doméstica de rabo inchado
A quem vendeu peixe estragado

E o que é que eu vou vestir?

E na miséria que por mim passa
E que finjo não existir
Baixinho julgo ouvir

E o que é que eu vou vestir?

Só então eu percebi
O meu espectáculo elitista
De todos estaria à vista

E o que é que eu vou vestir?

Fico assim a saber
Que o espectáculo que me espera
É típicvo da Primavera

E o que é que eu vou vestir?

Pergunta a velha na janela
De olhos postos na roupa estendida
Decide-se pela camisa encardida

E o que é que eu vou vestir?

O meu pôr-do-sol à beira tejo
Partilhado com o ardina da esquina
A sopeira e a menina

E o que é que eu vou vestir?

O espectáculo é gritante
Para a cidade velha e nua
O sol põe-se ao fundo da rua

E o que é que eu vou vestir?

Com a cidade às escuras
É tarde, vou dormir
Frustrada, o pijama vou vestir...

15 de Maio de 2001