Por falar em roupa...
Por causa do fim do teu post lembrei-me de uma espécie de poema que escrevi há tempos... Para te animares e para veres como a natureza feminina é simples...
Hoje à noite põe-se o sol
Para acontecimento tão electrizante
Há que estar fascinante
E o que é que eu vou vestir?
É uma pergunta que me persegue
Para trás e para diante
E se pareço um elefante
E o que é que eu vou vestir?
Sofro pelo caminho
Perco-me pelas ruas
Imagino as velhas nuas
E o que é que eu vou vestir?
Continuo pela cidade
Vejo os pobres no autocarro
O puto rico que fuma um charro
E o que é que eu vou vestir?
Desço o jardim dos maricas
Encontro tias na avenida
Sem saber da minha vida
E o que é que eu vou vestir?
Marginais embelezam prédios
Gastos e podres, a cair
Onde velhos e gatos vão dormir
E o que é que eu vou vestir?
Uma linda mulher passa por mim
De saia curta, perfume quente
Vai trabalhar, no Intendente
E o que é que eu vou vestir?
Um engravatado de gel no cabelo
Olha para as meninas que passam
Adivinhando formas que as fardas disfarçam
E o que é que eu vou vestir?
Uma peixeira que ri baixinho
D'uma doméstica de rabo inchado
A quem vendeu peixe estragado
E o que é que eu vou vestir?
E na miséria que por mim passa
E que finjo não existir
Baixinho julgo ouvir
E o que é que eu vou vestir?
Só então eu percebi
O meu espectáculo elitista
De todos estaria à vista
E o que é que eu vou vestir?
Fico assim a saber
Que o espectáculo que me espera
É típicvo da Primavera
E o que é que eu vou vestir?
Pergunta a velha na janela
De olhos postos na roupa estendida
Decide-se pela camisa encardida
E o que é que eu vou vestir?
O meu pôr-do-sol à beira tejo
Partilhado com o ardina da esquina
A sopeira e a menina
E o que é que eu vou vestir?
O espectáculo é gritante
Para a cidade velha e nua
O sol põe-se ao fundo da rua
E o que é que eu vou vestir?
Com a cidade às escuras
É tarde, vou dormir
Frustrada, o pijama vou vestir...
15 de Maio de 2001
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