Horóscopo

O meu horóscopo diz que esta semana me vou fartar do marasmo. I wish...Estou é farta da inconstância de tudo na minha vida. Sinto-me como uma vez me senti, num arraial do técnico, num concerto nem sei de quem, em que já não tinha controlo sobre nada e muito menos sobre o mim. Passamos a adolescência à espera deste momento em que nos tornamos adultos e as respostas chegam. Agora que sou, para todos os efeitos, adulta, vejo-me rodeada de questões a que não sei nem quero responder.

Passo 10 horas por dia numa sala onde não sei se quero estar, rodeada de pessoas que me são indiferentes. Mas não sei por onde mudar. Ao fim de semana, sei que quero dormir, mas o meu organismo recusa-se a obedecer-me. Na ânsia de aproveitar o tempo em que não estou no escritório, entro num mundo que não é meu, mas que sou eu também. Quando durmo tenho pesadelos e às vezes prefiro mesmo não dormir, o que só aumenta o cansaço com que encaro o trabalho.

Ao mesmo tempo, apesar de tudo, estou-me a safar bem o que só torna as coisas ainda mais confusas.

Há seis meses comecei a preocupar-me com o que seria o dia de hoje. Tinha razão. Hoje, não sei o que quero e muito menos o que sou. O estranho é que começo a apegar-me a este limbo e a sentir-me quase feliz assim, sem rumo. Acho que é uma espécie de instinto de sobrevivência.

Porque é que?

Porque é que apesar de tudo ter mudado, tudo continua na mesma?

Porque as circuntâncias são diferentes, mas o emprenho é o mesmo. Não foi só "dar o laço" - é o cuidado para que ele se mantenha...

Nem acredito que passaram 3 meses sem posts!

Nem acredito que passaram 3 meses ponto.
Como é que é possível deixar passar asssim o tempo sem o deixar registado? Como é que em 3 meses me parece que cresci 3 anos? Como é que em 3 meses ganhei 3 décadas de responsabilidade?

Passei outro dia pela estrada de sintra. Lembrei-me de ti, J. Lembrei-me da IF. O que é feito de vocês? Tenho saudades. Tenho saudades de ter tempo de poder arrancar para a estrada de sintra às 2 manha só porque nos apetecia. Tenho saudades de dançar tango durante os santos populares (não acredito que já passou um ano!) - ainda não deitei fora as 2 aulas que sobraram... Tenho saudades do bairro às terças e às quartas e das conversas que nos agarravam a noite toda à ombreira do bar ou à calçada das ruas. Tenho saudades do grupo que decide ir para o lux e dos resistentes que acabam por ir (obrigado J pela paciência em me convenceres a passar a ser um dos que vão, ou iam...)...

Tenho saudades de ter tempo para fazer as coisas que gosto. Será isto a vida, será isto crescer? Deixar de fazer essas coisas e ficar sempre com saudades? Ou será que fui o único a ficar preso a essa época boa e tudo à minha volta mudou?

Cativar

"Após uma reflexão, acrescentou: - O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
-É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços... "

O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

Às vezes pergunto-me qual o preço de um sorriso. Não do riso. É fácil rir. De uma boa piada, de um episódio dos "Friends" ou do "Gato Fedorento". Claro que há aquelas sessões de gargalhadas, de caretas ao espelho, de loucura, que nos deixam a alma leve. Mas um sorriso... Há um Mundo que se esconde por trás de um sorriso sentido (também há os sorrisos forçados, mas esses não trazem nada de bom, só uma grande dor nos maxilares).

Há aqueles sorrisos que duram um dia inteiro. Uma vida inteira. São feitos de coisas doces, de pensamentos, de lembranças. São a expressão física de um sentimento que nos preenche. Que ningém nos pode tirar. Que duram o tempo que uma vida tem.

Descobri agora o segredo do sorriso: os laços. Os laços que nos prendem a quem nos cativou um dia. Uma linguagem sem fala, selectiva, que escolhe aqueles que nos fazem sorrir. É preciso sorte para criar laços. E também alguma ingenuidade. Deixar fluir...

Há coisa de 3 anos e meio fui a uma reunião. Queria respostas para muitas perguntas. As minhas perguntas estavam erradas. E as respostas também. Ainda não encontrei aquilo que então procurava. Mas sei o que lá encontrei: um sorriso.

Fui ver o 'Million Dollar Baby'...

E porquê? Quem me manda não ler sinopses? Quem me manda achar preferível não ter expectativas em relação aos filmes e como tal apenas explorar a filmografia passiva depois de ter passado aquelas duas horas e tal no escuro?
Não quero ser mal interpretado - não estamos a discutir a qualidade do filme. Nem sequer pretendo entrar na discussão sobre se ou se não o sr. Oscar devia tê-lo proclamado melhor filme. O que eu não queria era ficar deprimido!
De uma maneira geral protejo-me destes filmes muito reais; ou, pelo menos preparo-me mentalmente para eles... Depois de um final de tarde já esforçado para não cair na letargia contemplativa e reflexional estava à espera de algum uplift cinematográfico! Queria tudo menos cair sem rede num ambiente carregado de emoção e de lutas éticas e morais!
Fica-se completamente desarmado, sem vontade de fazer nada - que venha a depressão, que se aguente durante a noite, que continue sem fim à vista... Também com esta manhã emocionante o que é que estava à espera...

Sobre a estrada de Sintra...

No mesmo caderno onde tinha aquela recita sobre o que vestir, encontrei isto e achei que tinha piada pôr aqui:

Numa estrada sombria
Onde os meus demónios me esperam
Senti de novo a vida
Senti de novo o sangue
O medo acordou-me do sono letárgico em que me encontrava
Mostrou-me que ainda sei sentir
Mostrou-me que fingia quando dizia viver.

14 de Fevereiro de 2004 (lembras-te???)

Morte Lenta

O "socilogicamente correcto". Ou o "familiarmente correcto". Essa fasquia, essa barreira, esse objectivo. A necessidade de corresponder ao que os outros esperam de nós. Ao que esperamos de nós mesmos. Porque a dificuldade está aí: na frágil fronteira entre os nossos desejos e as aspirações daqueles a quem amamos, de cujo afecto dependemos e que não queremos desiludir.

Naquela altura de afirmar as nossas inseguranças a que chamam adolescência, tentamos desenvolver algo de nosso, só nosso. Mas a verdade é que, assim que abraçamos a liberdade total que a idade adulta traz, assim que vislumbramos um raio de liberdade, logo a angústia se impõe. Afinal o que queremos? A resposta é simples. Ser feliz. Mas nesta simplicidade aparente escondem-se as dúvidas e os temores. O choque. Entre o ideal e o real.

Estes são os dias em que aquilo que idealizámos deve ser posto em prática. Sabemos isso. Apenas já não temos a certeza do ideal. Ou melhor. Este encontra-se esbatido pela rotina que se impôs e que apaga aquilo que sonhámos com os gestos vazios do dia-a-dia. Não temos tempo (sempre o tempo) para descobrir quem somos ou o que queremos.

Mas sabemos dizer que não estamos bem. Conseguimos identificar essa angústia de quem não está satisfeito e reúne forças para mudar. E esse é o primeiro passo. Por isso acredito que há esperança para nós. O fato que vestimos hoje, que faz de nós personagens cinzentos no breve filme da nossa vida, não dura para sempre.

Deixo-te com as palavras de quem sabe mais do que nós, aqui. Porque Neruda tem sempre a melhor das respostas...

Por falar em roupa...

Por causa do fim do teu post lembrei-me de uma espécie de poema que escrevi há tempos... Para te animares e para veres como a natureza feminina é simples...

Hoje à noite põe-se o sol
Para acontecimento tão electrizante
Há que estar fascinante

E o que é que eu vou vestir?

É uma pergunta que me persegue
Para trás e para diante
E se pareço um elefante

E o que é que eu vou vestir?

Sofro pelo caminho
Perco-me pelas ruas
Imagino as velhas nuas

E o que é que eu vou vestir?

Continuo pela cidade
Vejo os pobres no autocarro
O puto rico que fuma um charro

E o que é que eu vou vestir?

Desço o jardim dos maricas
Encontro tias na avenida
Sem saber da minha vida

E o que é que eu vou vestir?

Marginais embelezam prédios
Gastos e podres, a cair
Onde velhos e gatos vão dormir

E o que é que eu vou vestir?

Uma linda mulher passa por mim
De saia curta, perfume quente
Vai trabalhar, no Intendente

E o que é que eu vou vestir?

Um engravatado de gel no cabelo
Olha para as meninas que passam
Adivinhando formas que as fardas disfarçam

E o que é que eu vou vestir?

Uma peixeira que ri baixinho
D'uma doméstica de rabo inchado
A quem vendeu peixe estragado

E o que é que eu vou vestir?

E na miséria que por mim passa
E que finjo não existir
Baixinho julgo ouvir

E o que é que eu vou vestir?

Só então eu percebi
O meu espectáculo elitista
De todos estaria à vista

E o que é que eu vou vestir?

Fico assim a saber
Que o espectáculo que me espera
É típicvo da Primavera

E o que é que eu vou vestir?

Pergunta a velha na janela
De olhos postos na roupa estendida
Decide-se pela camisa encardida

E o que é que eu vou vestir?

O meu pôr-do-sol à beira tejo
Partilhado com o ardina da esquina
A sopeira e a menina

E o que é que eu vou vestir?

O espectáculo é gritante
Para a cidade velha e nua
O sol põe-se ao fundo da rua

E o que é que eu vou vestir?

Com a cidade às escuras
É tarde, vou dormir
Frustrada, o pijama vou vestir...

15 de Maio de 2001

Estranha forma de vida

Ultimamente tenho dado por mim a pensar no sentido da vida. Nada de grandes filosofias (para isso é preciso Tempo, e este escoa-se quase sempre por um canal orientado em direcção ao pragmatismo)... Acho que na verdade pensei, antes, naquilo que dá sentido à vida - o insconsciente tem razões que a razão desconhece...

É nisto que dá mudar de rumo, abarcar novos desafios - a engrenagem certinha e oleada que, rotação após rotação, nos conduz para alguma qualquer inevitabilidade que, tivéssemos escolha, nunca sequer ponderaríamos, soluça, insegura na sua precaridade acomodada.

E é nessa altura que olhamos em volta e descobrimos que somos livres de mandar às urtigas o sociologicamente correcto... E que esquema bem montado é este ...mente correcto! Vai-nos guiando ao longo das escolhas importantes e ou difíceis sem nunca hesitar, porque é assim que deve ser.

Só que de repente acordamos um dia e temos vestido um casaco horrível, com um corte indescritível, que não se ajusta especialmente bem nos ombros, torna-nos mais baixos e ainda por cima tem uma cor cinzentona completamente incaracterística... E pensamos, o que raio trago eu vestido? quando é que eu comprei isto?

Cuidado com esses casacos... Eles andam aí...